Wednesday, November 22, 2006

Depoimento emocionado sobre o X curso de iniciação teatral CCP/


Quando debrucei-me para escrever estas palavras, o começo me parecia um emaranhado de começos, desculpem-me desde já se eu for maçadora.

O ano de 2004 estava a ser muito difícil para mim em vários aspectos, a ponto de não querer ver ninguém, falar com ninguém; entrei na minha concha.

Em Setembro, uma pessoa amiga de passagem por S. Vicente, disse-me que meu comportamento me levaria para um caminho perigoso, e disse-me ainda:
“- Teja, tens aqui o Festival Internacional de Teatro – o Mindelact - vá ao Teatro. Eu tenho inveja da vida cultural que vocês têm em S. Vicente.”

E eu lhe respondi que não queria saber de Teatro... na verdade, não queria sair de mim.

Em Outubro, o Neu disse-me para inscrever no próximo Curso de Teatro pois seria uma terapia para mim. E eu que não queria “saber de teatro”, cada dia dava uma desculpa, até que um dia inscrevi-me só para que o Neu não chateasse mais.

Na verdade não ia muito ao Teatro e, nunca pensei em fazer teatro. Simplesmente não fazia parte dos meus objectivos.

Inscrevi-me, passei no teste e no primeiro dia de aulas tive uma sensação estranhamente agradável que nunca senti na vida e queria partilhá-la.

Depois das apresentações, tínhamos como iluminação apenas algumas velas acesas no centro do palco. O João pediu-nos que déssemos as mãos e fechássemos os olhos. O que eu senti quando o João começou a falar é inesquecível.

“Eu estava no cimo dum planeta qualquer e ouvia aquela voz se propagar, aquele palco se tinha tornado num universo. Mas não estava sozinha naquele universo imaginário, tinha uma pessoa de cada lado segurando minhas mãos. Foi maravilhoso aquele começo!”

Fui saboreando cada dia de aula, pois sabia que cada aula que passava seria um dia a menos que tinha para aprender. Devido a uma cirurgia a que fui submetida há pouco tempo, era frequente eu estar indisposta, mas vinha às aulas mesmo assim pois sabia que no palco a indisposição desaparecia como fumo levado ao vento. Era uma energia positiva que me envolvia. Os fins de semana se tornaram longos. Os dias de semana que me sentia plena eram às Terças e Quintas-feiras. Cada aula era uma massagem na minha alma.

De entre muitas coisas fantásticas com aplicação no dia-a-dia, neste curso perdi o medo de errar, aprendi a perdoar e aceitar as pessoas como elas são, e aprendi, sobretudo, que certos defeitos devem ser compreendidos e não corrigidos. Este curso de Teatro foi para mim - acima de tudo - um curso para a vida que a vida nunca me ensinaria. (...)

(...)Como eu disse no último dia do nosso espectáculo, “Se a maternidade me tornou mais mulher, este Curso de Iniciação Teatral me tornou mais pessoa” foi a coisa mais magnifica que me aconteceu depois do nascimento dos meus filhos a quem dedico esta vitória, bem como à minha mãe.

Hoje, graças a este Curso de Iniciação Teatral, tenho a certeza que saí da concha que me apertava. Sou bem maior que antes.

Um muito obrigado a todos!

Mindelo, 03 de Agosto de 2005

Maria Teresa Assunção
(Teja)

Tuesday, October 31, 2006

mudança de ares


Uma pequena mudança de planos: agora este blog pretence ao Grupo Companhia e-Teatro, uma ideia ainda em desenvolvimento, mas que com certeza, irá vingar. Agora não sou eu, mas sim: NÓS.
MERDA!!!!!!

Friday, September 29, 2006

Sobre os elementos


Se as nossas mentes, todas em conjunto, não tivessem tocado o etéreo individual de cada um com as nossas palavras e se conjugado na forma das nossas palavras momento; porque as palavras são um momento, vibrações que penetram ao íntimo do nosso ser e revelam-se-nos como semente que cresce na terra que se mistura sob os nossos pés, terra essa que nos sentiu nascer e que sustenta a nossa existência, pois dela viemos e a ela retornaremos como parte desse todo infinito onde firmamos os nossos alicerces com o suor do nosso corpo.
Assim, molhados nascemos e tristes entramos neste mundo sem sabermos que havia vida além útero e o que nos esperava. Somos marcados com a eterna marca de sermos e de mantermos a labareda que é a nossa vida e de fazermos algo que marque a nossa presença.

Saturday, May 06, 2006


Afinal quem é que tem o controle, hem?

Thursday, April 20, 2006

RECADO AOS JOVENS - O cavalo


O CAVALO

Cada actor tem obrigação de zelar e desenvolver o seu instrumental – sua voz, seu corpo: seu cavalo. Devemos transformar nosso corpo num grande arquivo de imagens com possibilidades de serem utilizadas em nossos futuros personagens; nossa voz deve poder miar, rugir, gemer, uivar – nossas mãos podem ser galhos de árvores, garras de feras, folhas secas ao vento – nossos pés, colunas de um templo, patas de animais. Nossos olhos devem poder reproduzir o enigma do olhar da esfinge, e a clareza cristalina de um poema de Brecht.E mais, devemos nos preparar para poder receber com artística mediunidade a alma do mundo, as grandes interrogações do nosso tempo, a voracidade deste universo em constante transformação. Devemos ser suficientemente fortes para poder reproduzir simultaneamente a maravilha e o horror do ser humano, a criatividade e a autodestrutividade de nós todos, homens, através desta difícil caminhada da vida.
O nosso cavalo deve então se preparar para poder assumir todas estas formas, e por isso ele tem de ser constantemente reabastecido e renovado.
O cavalo é também o estimulador de nossa energia, o conservador de nosso entusiasmo e de nossa fé; quando as crises vierem (e não tenham dúvida de que elas virão), nada melhor do que trabalhar na fortificação do cavalo, porque no mínimo estaremos crescendo durante a crise, estaremos trabalhando e temperando novas energias, adquirindo novas técnicas, novos conhecimentos. Podem ter certeza de que um bom cavalo torna o actor indestrutível.
By Rubens Corrêa

Wednesday, April 19, 2006

RECADO AOS JOVENS - O FOGO


O FOGO

«O fogo através do tempo sempre foi o símbolo vivo da fé, do entusiasmo e da rebeldia; mantê-lo aceso dentro de nós é também um trabalho para a vida inteira. O fogo nasce de um estado de curiosidade natural e instintivo e pode ser desenvolvido através da conquista progressiva de uma cultura geral, de uma observação apaixonada da história do homem, da história de todas as artes, da emocionante história do teatro – e um profundo sentimento de observação do ser humano – aqueles para quem realizaremos nossas mágicas, o nosso público. Esse fogo interno, uma espécie de grande rol central de energia e fé, é uma grande defesa contra a acomodação, e me parece ser a grande mola propulsora da criatividade; devemos estar sempre atentos aos seus chamados, e é preciso não deixar nunca, custe o que custar, esse fogo esmorecer, porque, caso isso aconteça, seremos os artífices de uma arte morta, sonâmbula, inútil, feia e resignada.»

Recado aos jovens - O MENINO

O MENINO

A recuperação da liberdade da infância através da vida adulta foi sempre uma das minhas metas; a criança é uma fonte incrível de informação artística - e a criança que nós fomos recuperada através do nosso lado lúdico tão atrofiado pelo correr dos anos – pode nos servir de guia, mas um guia muito especial, que caminha alegre e despreocupado, que sabe descobrir o mágico dentro do cotidiano, intuitivamente
Um grande exemplo da presença do menino dentro de um artista está na figura e na obra do pintor Pablo Picasso. "Eu não procuro, eu acho" afirmava o grande pintor. E essa fala denuncia o menino que Picasso levava dentro de si, que pintava cerâmica usando como base para o desenho a espinha do peixe que tinha comido no almoço, ou fazia fantástica escultura aproveitando uma roda velha e quebrada de uma bicicleta encontrada na estrada durante seu passeio matinal. O menino traz alegria e descompromisso racional para o trabalho artístico.

RECADO AOS JOVENS


O CÁLICE
«Representar para mim é a possibilidade que me foi dada de me comunicar com o meu semelhante através de uma troca de idéias, imagens, palavras, gestos e emoções. Um divertido, fascinante, e muitas vezes cruel jogo que mistura ficção e realidade, consciente e inconsciente, sagrado e profano, amor e ódio, vida e morte. Uma Paixão.
Através dos anos venho elaborando em cima das tábuas o meu trabalho, tentando sempre o difícil equilíbrio entre as conquistas técnicas e a simplicidade da execução. Aqueles instantes, todas as noites, em que represento um papel, são sempre os melhores momentos do meu dia. Isso quer dizer que levo para o palco meus sentimentos, minha idéia, minhas alegrias, meus abismos, meu horror e minha luz. Diariamente filtro essas emoções através das necessidades de cada personagem, e recebo de volta para mim mesmo uma nova compreensão de meus problemas - e acrescento ao personagem um novo enriquecimento conseguido "a quente", quer dizer, arrancado de dentro de mim mesmo.
Com o correr dos anos fui aprendendo a me observar como artista e ser humano, e fui tentando aproveitar em meus desenhos interpretativos a linguagem interior de minha vivência pessoal, para conseguir assim essa difícil união entre arte e vida, que foi sempre a minha grande aspiração.
Sempre acreditei que cada actor traz consigo um material fantástico, inimitável e único, muito difícil de ser conservado e desenvolvido nesta nossa era brutalizada e massificada.É um cálice de cristal interior, que deve ser preservado e defendido através de muitos terremotos, muita contrariedade, muita decepção e sensação de abandono, mas com momentos também de enorme luminosidade que quando acontecem recompensam o artista e engrandecem o ser humano.
Cada ator é único e inimitável se ele mergulha com honestidade em si mesmo, e retrata o seu semelhante com generosidade, verdade e paixão. "Somos feitos da essência com que os sonhos são feitos" escreveu Shakespeare, e essa é a melhor definição que conheço sobre o mistério da representação. »
by Rubens Corrêa

Monday, April 10, 2006

Sunday, April 09, 2006

GENESIS

Jairson(Catrapaz), Hernani Almeida e eu(Catrapuz)

Da esquerda para adireita: eu, Hernany Almeida, Leão e o outro não lembro hehe
Peça: qualquer coisa sobre D. Bosco



Todos os tempos, quando são antigos, são bons. Cada ano que passa deixa após si qualquer coisa que continua vivendo em nós e que é parte de cada um.
Saudades do tempo vivido na escola Salesiana em que a inocência (inocência, na acepção em que tomamos a palavra, quer dizer ignorância do que é impuro) imperava por cima da maldade e da vaidade e em que as amizades prevaleciam quase como juras de amor capazes de ultrapassar até os preconceitos sociais.
E foi assim que o bichinho começou a instalar-se.

Thursday, March 23, 2006

IMAGINAÇÃO

Foto de João Barbosa
A imaginação aumenta os pequenos objectos até que encham a nossa alma, em virtude de uma fantástica estima que deles se faz; e, com temerária violência, diminui as grandes até à sua medida, como ocorre quando se fala de Deus.
Pascal

Wednesday, March 22, 2006

Egoístico Eu

Foto de João Barbosa

Este blog é totalmente dedicado ao meu umbigo, pois aqui não tratarei de outra coisa senão afagar o meu centro-ego e das coisas que estão ligadas a ele. Finjo acreditar que o mundo roda à volta do sol, mas na realidade acho que ele, muitas vezes, roda à volta de mim. Assumo-o se você puser a mão na sua consciência e for capaz de ver que sente o mesmo.
Se nunca o sentiu então deveria experimentar a maravilhosa sensação que é vestir-se de alguém que não é você, que é maior do que você, que vive uma vida efémera, num mundo que roda à (tua) volta dele e que embora acabe em meio à escuridão (será assim a vida, a morte e a ressureição?) e um breve silêncio, ainda dá para ouvir a alma a cantar antes que se desfaça a ilusão.
Então não é milagroso que um homem possa levar dezenas de outros a se movimentarem consigo na sua fantasia de alter-ego, cada um dos quais, provavelmente, não tem a mesma simpatia pelo homem debaixo do "outro" e ainda assim obedecem, vão e voltam, andam e param, riem ou choram, como se não houvesse outra realidade.
É o momento que talvez todos tenham, em que nos esquecemos de nós e deixamos correr o tempo , que embora precioso afasta-se do nosso pensamento, como se alguém tivesse dito alguma palavra mágica...
Bem, se não tinham entendido ainda eu estava a falar de Teatro e sim, é magia!!!!

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